25.6.14

Frances Ha, 2012

por Cecília Goursand



(Engraçado que quando uma pessoa anônima me mandou esse filme como sugestão nesse link, assisti, mas nem botei muita fé, confesso. Eis que paguei língua e só comprovei o que venho falado por aqui: TODO filme, uma hora ou outra, servirá pra alguma coisa na nossa vida. Quase como a praga da Malévola : "Antes do pôr-do-sol, do seu 16º aniversário, você pagará língua, Cecília." Juro que ouvi. Tirando a parte do pôr-do-sol e 16º aniversário.)

É que a vida anda meio amarga, meio sem reciprocidade, meio sem compreensão e respeito. Meio estressada, meio sem argumento. Ando vivendo em pedaços, distribuídos pelo mundo afora. Deveria ser uma coisa boa, falar que já passei por muitos lugares, pessoas e situações. Até vivi. Mas não é tão bom quando, ainda que por um momento, nos perdemos. Me perdi. A parte chata de ir se entregando a cada coisa é quando não sobra mais um pedaço sequer da gente pra gente mesmo.

E ai que é hora de se recolher, se encontrar e se juntar. Ou se encontrar, se recolher e se juntar. A ordem dos produtos pode não alterar a dos fatores e vice e versa.

E foi pensando e buscando um tempo e espaço pra mim que lembrei de Frances Ha esses dias, almejando profundamente o jeito dela de viver.Tentando trazer para o meu jeito intenso-funcional-cansativo-profundo, aquele jeito saltitante eterno, meio raso, como quem não se importa muito com a opinião dos outros, que não se joga na tristeza ou sai dela rápido. Despretensioso, mas sabe o que quer. Se não deu, paciência. Não rende no que é ruim. Não desiste. Inamorável, era como alguns amigos a chamavam. E ela concordava. A vida quase não tinha empecilhos. Ou se tinha, ela não via como um bicho de 7 cabeças. Apenas de 2. E era isso que eu trocava fácil na minha pelas preocupações que insistem em paralisar.

O bom de rever o filme foi que comecei a perceber que eu era mais parecida com Frances Halladay (Greta Gerwig) do que imaginava. Tentando sempre algo, passando por lutas diárias de conquistar um lugar ao sol. Viver nunca foi fácil. Aliás, no quesito se encaixar na vida, acho que somos todos Frances Ha.
Quem nunca se sentiu um peixe fora d'água, mesmo que no pré-escolar? (A rima, juro, não foi proposital.)
Quem nunca tentou ser a peça faltante do quebra-cabeça na vida dos outros e/ou na própria vida? Ficou na perdição, sem saber quem era e que rumo tomar ?
Deixando pedaços, por onde passava, na tentativa exaustiva e autêntica de ser, encaixar.

Cadeira grátis: Totalmente normal,sério.
Não coube em um espaço
de armazenamento
Precisa de um lar.

A diferença é que antes de uma decisão tomada por mim, existe um mar de lágrimas presas doido pra sair. Viver ou ser Frances Ha, não é ignorar o problema, mas aceitar que eles existem e que são apenas situações. Grande o suficiente para nos tirar da zona de conforto e pequeno o suficiente para não importamos tanto. A vida é um teatro, já dizia meu pai. E cada situação é apenas uma cena a ser interpretada. Nada mais.

Mas ser, de fato, nunca foi fácil. E o cansaço é apenas um dos preços que pagamos ao buscar autenticidade. Talvez o menor deles, tipo em centavos. Mas uma economia da gente mesmo, não faria mal a ninguém. Se doar é bom, mas também, preciso, nos dois sentidos: de precisão e necessidade. Mas quando não há dosagem para sobrar um restinho para gente, corremos o risco de sumir. E ai quem vai nos achar?
É ai que ainda busco no momento, ser inteiramente Frances Ha. Ou Cecília Go.

                             

Ficha Técnica

Onde e quando: Estados Unidos, 2012
Olhar de quem: Noah Baumbach
Quem faz parte: Greta Gerwig ( que também construiu o roteiro ♥), Mickey Sumner, Adam Driver, Charlotte d'Amboise, Michael Esper, Grace Grummer, Patrick Heusinger, Michael Zegen.
Quanto tempo: 94 minutos.
Trilha Sonora: David Bowie ♥ e outros.

Obs: tem ele on line ♥ ♥