18.6.14

Mato sem cachorro, 2013

por Cecília Goursand




Esse filme me fez lembrar o quanto morria de medo de qualquer dente afiadinho, a começar pelos meus, quando criança. Para ir à casa de algum coleguinha de escola, eu tinha que perguntar antes se tinha cachorro. Se tivesse, eu não ia. O que me rendeu a algumas notas baixas na escola e amizades perdidas :/ .

Bem lá no fundo, eu sentia que esses seres fofos só queriam brincar e serem amigos. Mas o medo não me permitia nem sentir aquela deliciosa pelúcia toda. Suspeitava que o problema poderia ser resolvido assim que eu tivesse um cachorro na vida, mas onde eu morava, não podia. Depois fiquei sabendo que na verdade, era papis que não queria só pelo medo de sofrermos futuramente com a morte do animalzinho.

Como no filme Mato sem cachorro , eis que caiu um doguinho do céu na minha vida. Meus dentes e mãos já eram desenvolvidos o suficiente para estar preparada para qualquer pelúcia arrepiante, embora o medo dos dentinhos afiados deles, permanecia.

Mas entre mordidinhas superadas e arranhões carinhosos, há 5 anos venho absorvendo o melhor que poderia com essa coisa gostosa de 4 patas. Vi que na verdade, devemos ter medo é de outros seres estranhos, chamados as vezes erroneamente de humanos.

De personalidade forte, Austublyft (meu dogesbanja formosura, conquista seu espaço e vive na trollagem alheia. Late pra desconhecido, motoqueiro, carteiro, amigos não confiáveis e namorados chatos. Avança em criancinhas, idosos e faxineiras e quase mata a gente do coração, quando late para o corredor vazio do ap. Mas é inegável, assim como Guto (o golden lindo do filme) que Austi (como chamo carinhosamente preguiçosa) tem aquela inocência que nos faz derreter por eles e como consequência, aquela coragem em enfrentar problemas bem maiores que os nossos.

Contrapondo essa ideia e de uma forma bem engraçada, Pedro Amorim (diretor) chama nossa atenção e nos mostra em seu filme que a relação com cachorros é e pode ser sempre aquela delícia quando não usamos essas ricas criaturas como objeto para uniões mirabolantes de quem queremos muito perto OU para suprir algum vazio ou usar de saco de pancada.


E é ai que Guto, que no filme tem narcolepsia (desmaia/dorme) quando fica muito excitado ou pressionado, lambe a cara da sociedade e nos ensina, além do amor, a sair à francesa. Usando essa inocência gostosa, "fingindo de morto" quando a situação aperta, especialmente nos momentos que os humanos atribuem toda a responsabilidade de felicidade à ele. Fingir de morto é tática, é vida, é necessário.

De fato, os doguinhos nos ensinam sobre o amor e une as pessoas, mas não podemos cobrar isso deles. A responsabilidade é inteiramente nossa de ser feliz, independente deles. Ainda que contribuam para isso. Existe uma linha tênue entre objeto, cachorro e gente. E mesmo que se tratasse de pessoas, sabemos que não podemos atribuir a responsabilidade de ser feliz à qualquer outro ser.


Diferente de outras críticas que andei lendo, achei que Pedro conseguiu sair da aba Hollywoodiana e fazer um filme originalmente brasileiro ou se ainda imitou a realidade norte-americana, não percebi. Além de ter conseguido ser coerente com a ideia de relações entre pessoas e animais, mostrando que o cachorro pode unir sim as pessoas, mas se elas não fizerem a parte delas, não há narcolepsia, nem Sidney Magal que salve uma relação. #fikdik ;)



E você, o que achou? Se já viu, comente aqui ;)
Se não, tem ele on line aqui : ))


Ficha Técnica:

Onde e quando: Braseeo, 2013
Olhar de quem: Pedro Amorim
Quem faz parte: Bruno Gagliasso, Leandra Leal, Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Gabriela Duarte e Duffy
Quanto tempo: 113 minutos.
Trilha Sonora: muitas e muitas palmas ♥