11.6.14

Malévola, 2014

por Cecília Goursand





Contém pitadas de Spoiler! Mas vale a pena ler a reflexão :))

Pra quem assistia,  decorava cenas, falas and músicas de contos de fadas como se não houvesse amanhã, ver Malévola o mais rápido possível foi questão de necessidade. Aquela pontinha de vida surreal que insistia em me manter em contradição precisava sumir.

Afinal, confesso: ainda é um pouco tentador sonhar e querer aquela vida magia de confetes, purpurina e outras coisas que brilham; de monarquia, bruxa pra culpar tudo de ruim que acontecesse e a compensação -por fim- do amor eterno. Ahh, o amooorr e seu "felizes para sempre" .


Preciso confessar que minha curiosidade falou mais alto e acabei lendo alguns murmurinhos sobre Malévola antes de ir pro cinema e foi ai que percebi que tinha algo diferente e surpreendente nesse filme divo, aumentando ainda mais a vontade de me jogar nas telonas. Agora a necessidade era outra e acrescentada: a de entender o que passava naquela cabecinha chifruda e verde da bruxa que eu mais tinha medo.



Dito e feito.
E ai que a ficha da Disney caiu e eu não tinha percebido. Caiu em Valente (ainda que da Pixar ), fiquei sabendo que em Frozen e agora, em Malévola *_*
Quem tem acompanhado o Blog, sabe que tenho proposto reflexões sobre os contos de fadas, mas em novas versões. É que desde de Valente, voltei a me apaixonar pela Disney . A Pixar fez bem a ela :))
O que eu nunca tinha percebido ainda é que a influência desses contos vai além da ideia de estética, amor eterno e final feliz. A safadinha da Disney sempre nos fez acreditar que mulheres não podiam ser amigas.

Quase todos os filmes de contos de fadas e que tenha mais mulheres além da princesa, é raro ver amizade entre elas. Algumas tem até um combo para enfrentar, quer ver? Cinderela e as irmãs más + madrasta, Branca de Neve que tem a amizade dos anões, Ariel que tem como amigos um siri e um peixe, Rapunzel de Enrolados que tem como inimiga sua mãe e por ai vai. A relação existente entre mulheres é sempre de enfrentamento e nunca de cooperação. Quem ajuda as princesas são animais e/ou o gênero masculino. Nunca, as mulheres. Invejosos dirão que Freud explica, mas a verdade dele não é a absoluta.

E é ai que Malévola entra sambando, cuspindo e dando tapa na cara da sociedade. Em Valente e Frozen a Disney- Pixar pode até ter começado, com carinho, a nos conquistar novamente. Mas é em Malévola, que ela dá seu atestado de desculpas para todo mundo que caíu em seu lero lero de amor e mulheres inimigas, durante 7 décadas, transformando e formando todas as gerações que estavam por vir. Impondo uma tradição.

(Há realmente quem diga que as histórias contadas pela Disney são fatos já acontecidos na vida real e a Disney usa isso para que a criança saiba elaborar melhor algumas fases vividas na infância, especialmente a relação com a mãe.)

Sabe-se lá qual o motivo da ficha cair, o fato é que com pequenos detalhes, a Disney volta agora pra gente, aproximando mais da nossa realidade. Pelo menos a das mulheres de nossa sociedade de hoje, que ficaram fortes com o tempo e saíram desse clichê de esperar o tal moço em cima do cavalo branco. É justamente mudando a cor dele, entre outras coisas, que o filme Malévola deixa de ser aquela velha concepção de vida perfeita. Nele, a criança boazinha tem chifres, tem a fada que não é boa e a bruxa que não é tão má. Tem o amor entre homem e mulher ,que prioriza a ambição e corta as asas, literalmente,evoluindo assim para o ódio. Vira um universo de cabeça pra baixo, mas dá espaço para mulheres fortes, independentes e livres escolherem o que quiserem. Mudando até o tom de "Once upon a dream" na voz dyvônica da Lana


Como boa escorpiana que sou, gosto da  pitada de vingança a la Kill Bill que Malévola se vê várias vezes, mas logo vira redenção e ela percebe que a própria vida cuida em dar o troco. Cada um tem o que merece.
Mas como tudo tem dois lados, meu lado de apaziguadora parabeniza a Disney por oferecer à Malévola o direito de defesa, contando sua versão. E é lindo quando vemos que o amor pode mudar de lado e bastar. Está indo embora a ideia de que a felicidade das mulheres depende de um relacionamento. Quem viu, sabe do que tô falando.

Ao que tudo indica, as aparências enganam e é um bom detalhe para ficar de reflexão.
Spoilers à parte,  na verdade não sei se a pontinha de vida surreal sumiu em mim totalmente, ou se a Disney apenas mudou  uma concepção para outra, mas é no mínimo interessante pensar em um mundo onde mulheres não precisam competir, onde mulheres podem ser felizes apenas pelo bem estar próprios e conquistar seus desejos e espaços , não envolvendo um relacionamento propriamente dito, mas conquistar um reino por si só, independente do seu estado civil.

Nada mais lúdico para ilustrar nossa realidade hoje. E não aguento mais escrever a palavra Disney.

Mas fica o recado: Disney, te amo, embora ainda tem muito chão pela frente :))

O Adoro Cinema fez esse vídeo comparando cada versão





Ficha Técnica:

Quando e onde: Estados Unidos, 2014
Olhar de quem: Robert Stromberg
Quem faz parte: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sam Riley, Sharlto Copley, Brenton Thwaites, Juno Temple, Imelda Staunton, Lesley Manville
Quanto tempo: 97 minutos.